9.1.11

Michael Haneke, Das weisse Band (2009) [21''27'/24''08]

31.12.10

The great silence

Charles Chaplin, The Great Dictator, final speach [04'05'']; 1940

"I'm sorry but I don't want to be an emperor. That's not my business. I don't want to rule or conquer anyone. I should like to help everyone if possible; Jew, Gentile, black men, white. We all want to help one another. Human beings are like that. We want to live by each others' happiness, not by each other's misery. We don't want to hate and despise one another. In this world there is room for everyone. And the good earth is rich and can provide for everyone. The way of life can be free and beautiful, but we have lost the way.

Greed has poisoned men's souls; has barricaded the world with hate; has goose-stepped us into misery and bloodshed. We have developed speed, but we have shut ourselves in. Machinery that gives abundance has left us in want. Our knowledge as made us cynical; our cleverness, hard and unkind. We think too much and feel too little. More than machinery we need humanity. More than cleverness, we need kindness and gentleness. Without these qualities, life will be violent and all will be lost. The aeroplane and the radio have brought us closer together. The very nature of these inventions cries out for the goodness in man; cries out for universal brotherhood; for the unity of us all.

Even now my voice is reaching millions throughout the world, millions of despairing men, women, and little children, victims of a system that makes men torture and imprison innocent people. To those who can hear me, I say "Do not despair." The misery that is now upon us is but the passing of greed, the bitterness of men who fear the way of human progress. The hate of men will pass, and dictators die, and the power they took from the people will return to the people. And so long as men die, liberty will never perish.

Soldiers! Don't give yourselves to brutes, men who despise you and enslave you; who regiment your lives, tell you what to do, what to think and what to feel! Who drill you, diet you, treat you like cattle, use you as cannon fodder! Don't give yourselves to these unnatural men---machine men with machine minds and machine hearts! You are not machines! You are not cattle! You are men! You have a love of humanity in your hearts! You don't hate! Only the unloved hate; the unloved and the unnatural.

Soldiers! Don't fight for slavery! Fight for liberty! In the seventeenth chapter of St. Luke, it’s written “the kingdom of God is within man”, not one man nor a group of men, but in all men! In you! You, the people, have the power, the power to create machines, the power to create happiness! You, the people, have the power to make this life free and beautiful, to make this life a wonderful adventure. Then in the name of democracy, let us use that power.

Let us all unite. Let us fight for a new world, a decent world that will give men a chance to work, that will give youth a future and old age a security. By the promise of these things, brutes have risen to power. But they lie! They do not fulfill their promise. They never will! Dictators free themselves but they enslave the people! Now let us fight to fulfill that promise! Let us fight to free the world! To do away with national barriers! To do away with greed, with hate and intolerance! Let us fight for a world of reason, a world where science and progress will lead to all men’s happiness.

Soldiers, in the name of democracy, let us all unite!"

13.5.10

Einsturzende Neubauten

Blume,

Einsturzende Neubauten, tabula rasa, 1993

11.5.10

Curriculum Vitae

English version

Version Castellana

Adolf Loos

Casa Moller, 1928



Há nos projectos de Loos sempre este sentido do interior como única razão de existência da casa. E como interior, está intrínseco uma relação primeira com o limite, o do muro branco que melhor agrega as estruturas (espaciais) íntimas, e deste com o exterior, com a rua, com a cidade. Seria fácil descrever esta obra enquanto enunciadora de uma ideologia racionalista, talvez nada mais errado. É imediato a associação perante a simetria irreal da composição da fachada, quase quadrada, e com as janelas timidamente concentradas no seu interior, em volta de um corpo saliente que se destaca, opondo-se ao exagero do muro branco, dando-lhe profundidade e enquadrando-lhe a entrada principal. Logo passa a surpresa dos volumes quando nos debruçamos sobre a fachada posterior, a do jardim. Ai tudo respira normalidade e acontece sem sobressaltos, estamos dentro de casa.
O seu interior estrutura-se de acordo com uma lógica de encadeamento da complexidade íntima. A entrada faz-se, não sem alguma ambiguidade, pelo piso de serviço que conduz o habitante imediatamente (alguma insistência de Loos em referi-lo como espectador), através de um dinâmico jogo de escadas que obriga o corpo, em três lances a chegar ao piso principal (social), passando por um intermédio de guarda-roupa. O piso principal é composto por um hall de articulação da zona de estar/musica, a biblioteca, zona de refeições e a cozinha que, por sua vez, estabelece uma relação independente com a zona de serviços do piso inferior. Todos estes espaços, estando acoplados, não constituem uma continuidade linear. Desenvolvem-se a vários níveis num jogo sobre o estabelecimento de uma estrita relação perceptiva entre os diversos espaços. É deste piso que o interior força a parede da fachada criando um espaço intermédio com o exterior, provocando o volume saliente da fachada, e estabelece o primeiro momento de intimidade, como prolongamento do espaço da biblioteca. No piso superior, a intimidade é garantida pelo programa. Reservado à zona de quartos, há uma clareza esquemática na colocação dos quartos junto das fachadas principais (os quartos principais para o jardim, os secundários para a rua), divididos por um corredor de distribuição central. Por fim o terceiro piso, apenas acessível por escadas em caracol, cria uma zona de estúdio e quarto de dormir com acesso a um terraço exterior. Esta insistência do trabalho da alteridade, do estabelecimento e marcação da relação entre o exterior e o interior, feita a vários níveis, ganha em Loos um papel central como expressão e validação da criação do espaço da habitação.

Casa Tristan Tzara Paris. 1926/27




A casa projectada por Loos para a residência parisiense do poeta Tristan Tzara aparece como um dos seus mais complexos e intrigantes projectos. O programa da casa já fazia prever isso mesmo e as difíceis condições dos terrenos do lote vieram jogar a favor da vontade do autor, já revelada em projectos anteriores, em experimentar novos níveis de concepção semântica e de articulação espacial. Do programa inicial sabe-se (embora a casa tenha sido totalmente transformada no seu interior) que o cliente desejava uma casa com dois níveis de habitabilidade distintos mas interligados, um para si, outro para alugar ou para recessão de visitas; logo reconhecemos um tema não só recorrente em Loos como um dos seus temas favoritos, o espaço dentro do espaço. Pelo que teria que haver uma versatilidade absoluta na articulação destes dois níveis do mesmo espaço geral. Este é o terreno de Loos. A arquitectura pura onde o espaço impera na resolução das necessidades programáticas, submetendo para isso a matéria às suas mais profundas especificidades. Loos constrói assim a complexidade interior desta habitação dupla onde começa a ser complexa a leitura da continuidade espacial através das suas representações gráficas. Conseguimos, pela leitura das relações que a casa vai sugerindo com o exterior, descortinar algumas das principais questões que ocuparam o pensamento do autor. Destaco, em primeiro lugar, as relações de diferença, baseadas nesta premissa programática dual, que determinam discursos distintos entre a fachada principal (Avenida Junot) e a fachada posterior. Na fachada principal Loos coloca em evidencia um jogo duplo, dado sobretudo pelo material, entre um embasamento rectangular de pedra que ocupa os dois primeiros pisos e os três pisos superiores que se desenvolve em muro branco de forma quadrada. “El bueno y antiguo revoco vienés fue maltratado y prostituido, ya no podía decir quién y qué era, y fue utilizado para imitar la piedra. Pues la piedra es cara y aquél es barato. El aire aquí es barato y en la luna es caro. (…) El revoco de cal es una piel. La piedra es construtiva. A pesar de su parecida composición química, existe entre ambos la mayor diferencia en su utilización.” Já na fachada posterior é só este segundo discurso que determina a sucessão de pequenos terraços dando a ideia de um objecto único. Mais uma vez utilizando-se do desnível do terreno, que além do mais exigiu um enorme esforço de contenção de terras que conseguimos perfeitamente descortinar, através das representações em corte, pelo aumento de espessura dos muros no contacto com o solo. Já no desenho das fachadas nota-se um claro recurso à simetria dada pelas aberturas, que aqui ganham definitivamente a dimensão de vazios, escavações nos muros das fachadas que permitem encenar a entrada e criar zona de balcões exteriores.

Casa Scheu, 1912



Este projecto situado no bairro vienense de Hieting leva mais longe as premissas lançadas pelo projecto da vila Steiner, na sua tentativa de implementar, a partir da aplicação de inovações técnicas e de uma nova visão sobre o habitar, um novo discurso formal para a residência citadina. A habitação desenvolve-se em três pisos em terraço, rematada por uma cobertura plana propondo uma morfologia inovadora e transgressora na cultura arquitectónica vienense. Fruto de uma inovação técnica da época, Loos opta pela solução de cobertura plana utilizável para assim permitir o acesso, feito a partir dos quartos, ao exterior da casa. Esta também é uma outra ideia de cidade, de relação entre o interior da casa e o exterior, a rua da cidade. Se por um lado Loos ergue de novo os muros brancos sobre as ruas, resguardando a intimidade, a esfera privada da família, através do discurso ‘ausente’, não representativo da fachada depurada que permite o controlo pelo seu interior. Esse controlo sobre o envolvente é exercido pelos terraços, mas sobretudo pelas janelas compostas numa matriz assimétrica rigorosamente ditada pela dinâmica programada pelo espaço interior. Estas novas derivações espaciais, permitidas pelos avanços tecnológico-construtivos e motivados por uma nova perspectiva sobre a vida urbana, colocam a tradição em perspectiva a partir de uma reflexão critica sobre o passado histórico e uma vontade de continuidade liberta de amarras anacrónicas.
Este projecto assenta num encadeamento de opções racionais focado no desenvolvimento de necessidades do habitar que reduz o pensamento loosiano a uma sequência lógica de grande simplicidade e elegância. Há uma forte vontade de reforçar a imagem da residência convencional austríaca construída à volta desta velha ideia da forma pura e escalonada, quase austera, sem nunca cair no virtual encanto de estereótipos formais. Mais tarde Loos vai voltar ao discurso do volume puro e escalonado, que possibilita o acesso ao exterior sem nunca sair verdadeiramente do interior da residência, ou o contrário, a presença regrada do exterior da cidade, por excelência pública, para dentro da intimidade familiar, ideia que encontra um reforço enigmático pela existência de uma escada secundária de acesso directo dos quartos até à rua. Os interiores, de resto, denotam um esquema distributivo muito simples, o primeiro piso, de cota sobrelevada à da rua, reúne toda a zona social da casa e a biblioteca, os serviços encontram-se na cave e os segundo e terceiro piso albergam os quartos.

Casa Horner, 1913


O edifício comercial e habitacional para a Michaelerplatz, a casa Steiner e a vila Scheu, lançam de certa forma as premissas fundamentais para o desenvolvimento da linguagem loosiana que neste exemplo da casa Horner começa, também pelo recurso mais ou menos subtil a um jogo de repetições, a tornar-se mais densa e complexa particularmente pela notável habilidade de articulação espacial. Talvez seja esta a sua repetição mais recorrente, o jogo do espaço, mas não é certamente a única.
Enfrentado por um problema semelhante ao da casa Steiner, onde os regulamentos não permitiam uma construção acima de um piso, também as soluções reflectem a mesma abordagem. Aproveitando o terreno desnivelado, Loos eleva ligeiramente o piso do embasamento, ganhando assim cota suficiente para, o que na fachada principal surge como uma cave, altura suficiente para tornar o piso inteiro na fachada posterior, aberta para o jardim. Erguida num bairro residencial dos subúrbios cidade de Viena, a casa Horner apresenta-se como um objecto algo insólito para o ambiente urbano burguês vienense do início do século XX. O seu corpo principal, de tendência cúbica, encimado por um meio-cilindro revestido a placa de zinco, cuja forma radical deriva de uma solução técnica, já usada pelos mesmos motivos na casa Steiner, que permite ganhar mais um piso e uma zona de águas furtadas mais generosas, denotando um claro esforço de maximização das possibilidades. Outro elemento recorrente em Loos é a presença, quase constante de resto, do terraço. Na fachada este da casa, um volume paralelepipédico sobressai, possibilitando uma zona exterior no piso dos quartos e um espaço de comunicação para o jardim no piso social da casa.
A distribuição dos espaços interiores denota uma extrema simplicidade de organização espacial. De planta quadrada e aproveitando o facto de todas as fachadas possibilitarem aberturas, os espaços articulam-se em volta de uma zona única de serviços, estando o primeiro piso reservado às zonas sociais e o segundo as zonas nocturnas, com a concentração de serviços na cave.

Casa Steiner, 1910



A depuração, a simplicidade sem atributos da fachada denota uma reinterpretação da casa enquanto espaço de intimidade individual, sua real motivação, expressada num contexto público, como mero objecto de uso privado submerso no fluxo urbano da existência colectiva. “La casa no debe decir nada al exterior, toda su riqueza debe manifestarse en el interior.” Como tal as opções formais, materiais e técnicas, que a casa necessariamente revela devem responder a uma racionalidade estrita, onde o espaço interior dita a matriz base, sem nunca se reduzir a dogma, criando uma aparente incoerência no desenho das fachadas marcada pela pluralidade de esquemas compositivos. Na fachada principal, a da rua St. Veigasse, uma rígida simetria compositiva é desconstruída pelo calibrado desenho das janelas de dimensões diversas. Em contrapartida a fachada posterior, que se abre para o jardim, revela uma simetria que extravasa a simples composição dos vãos e dita um jogo de perfeita equivalência entre os dois maciços laterais e o vazio central que suaviza a transição entre o interior e o exterior da casa. Por fim as fachadas laterais assumem uma relação empírica com o exterior, isto é, o desenho dos seus vãos é ditado, não por uma qualquer matriz compositiva de razão geométrica, mas pela expressão das relações interiores.
Simetria e assimetria aparecem assim como celebração de uma racionalidade clássica que se transcende enquanto matriz dogmática e ganha vida concreta através de um equilibrado e racional entendimento empírico do duplo acto de habitar e construir. É neste ponto que Loos desenvolve a sua ambígua relação antecipatória com as linguagens Racionalistas. A coerência e economia funcional, a expressividade não representativa do muro branco, como marcação de uma postura não ornamental, a adopção da cobertura plana, revelam uma rigorosa e avançada modernidade mas sem nunca cair num desenvolvimento estilístico. A racionalidade loosiana é antes uma expressão, não tanto de um processo de abstracção, mas antes de síntese e actualização de um conjunto de técnicas construtivas validadas por uma larga tradição de fazer. Partindo sempre da complexidade das articulações espaciais interiores, reflexo de uma aspiração à habitabilidade do espaço vazio que acolhe a individualidade nas suas mais diversas necessidades íntimas, Loos contrapõe a simplicidade dos volumes maciços do exterior que ao mesmo tempo que o organizam, asseguram-no como tal.