11.5.10

Casa Steiner, 1910



A depuração, a simplicidade sem atributos da fachada denota uma reinterpretação da casa enquanto espaço de intimidade individual, sua real motivação, expressada num contexto público, como mero objecto de uso privado submerso no fluxo urbano da existência colectiva. “La casa no debe decir nada al exterior, toda su riqueza debe manifestarse en el interior.” Como tal as opções formais, materiais e técnicas, que a casa necessariamente revela devem responder a uma racionalidade estrita, onde o espaço interior dita a matriz base, sem nunca se reduzir a dogma, criando uma aparente incoerência no desenho das fachadas marcada pela pluralidade de esquemas compositivos. Na fachada principal, a da rua St. Veigasse, uma rígida simetria compositiva é desconstruída pelo calibrado desenho das janelas de dimensões diversas. Em contrapartida a fachada posterior, que se abre para o jardim, revela uma simetria que extravasa a simples composição dos vãos e dita um jogo de perfeita equivalência entre os dois maciços laterais e o vazio central que suaviza a transição entre o interior e o exterior da casa. Por fim as fachadas laterais assumem uma relação empírica com o exterior, isto é, o desenho dos seus vãos é ditado, não por uma qualquer matriz compositiva de razão geométrica, mas pela expressão das relações interiores.
Simetria e assimetria aparecem assim como celebração de uma racionalidade clássica que se transcende enquanto matriz dogmática e ganha vida concreta através de um equilibrado e racional entendimento empírico do duplo acto de habitar e construir. É neste ponto que Loos desenvolve a sua ambígua relação antecipatória com as linguagens Racionalistas. A coerência e economia funcional, a expressividade não representativa do muro branco, como marcação de uma postura não ornamental, a adopção da cobertura plana, revelam uma rigorosa e avançada modernidade mas sem nunca cair num desenvolvimento estilístico. A racionalidade loosiana é antes uma expressão, não tanto de um processo de abstracção, mas antes de síntese e actualização de um conjunto de técnicas construtivas validadas por uma larga tradição de fazer. Partindo sempre da complexidade das articulações espaciais interiores, reflexo de uma aspiração à habitabilidade do espaço vazio que acolhe a individualidade nas suas mais diversas necessidades íntimas, Loos contrapõe a simplicidade dos volumes maciços do exterior que ao mesmo tempo que o organizam, asseguram-no como tal.