11.5.10

Casa Scheu, 1912



Este projecto situado no bairro vienense de Hieting leva mais longe as premissas lançadas pelo projecto da vila Steiner, na sua tentativa de implementar, a partir da aplicação de inovações técnicas e de uma nova visão sobre o habitar, um novo discurso formal para a residência citadina. A habitação desenvolve-se em três pisos em terraço, rematada por uma cobertura plana propondo uma morfologia inovadora e transgressora na cultura arquitectónica vienense. Fruto de uma inovação técnica da época, Loos opta pela solução de cobertura plana utilizável para assim permitir o acesso, feito a partir dos quartos, ao exterior da casa. Esta também é uma outra ideia de cidade, de relação entre o interior da casa e o exterior, a rua da cidade. Se por um lado Loos ergue de novo os muros brancos sobre as ruas, resguardando a intimidade, a esfera privada da família, através do discurso ‘ausente’, não representativo da fachada depurada que permite o controlo pelo seu interior. Esse controlo sobre o envolvente é exercido pelos terraços, mas sobretudo pelas janelas compostas numa matriz assimétrica rigorosamente ditada pela dinâmica programada pelo espaço interior. Estas novas derivações espaciais, permitidas pelos avanços tecnológico-construtivos e motivados por uma nova perspectiva sobre a vida urbana, colocam a tradição em perspectiva a partir de uma reflexão critica sobre o passado histórico e uma vontade de continuidade liberta de amarras anacrónicas.
Este projecto assenta num encadeamento de opções racionais focado no desenvolvimento de necessidades do habitar que reduz o pensamento loosiano a uma sequência lógica de grande simplicidade e elegância. Há uma forte vontade de reforçar a imagem da residência convencional austríaca construída à volta desta velha ideia da forma pura e escalonada, quase austera, sem nunca cair no virtual encanto de estereótipos formais. Mais tarde Loos vai voltar ao discurso do volume puro e escalonado, que possibilita o acesso ao exterior sem nunca sair verdadeiramente do interior da residência, ou o contrário, a presença regrada do exterior da cidade, por excelência pública, para dentro da intimidade familiar, ideia que encontra um reforço enigmático pela existência de uma escada secundária de acesso directo dos quartos até à rua. Os interiores, de resto, denotam um esquema distributivo muito simples, o primeiro piso, de cota sobrelevada à da rua, reúne toda a zona social da casa e a biblioteca, os serviços encontram-se na cave e os segundo e terceiro piso albergam os quartos.