11.5.10

Casa Moller, 1928



Há nos projectos de Loos sempre este sentido do interior como única razão de existência da casa. E como interior, está intrínseco uma relação primeira com o limite, o do muro branco que melhor agrega as estruturas (espaciais) íntimas, e deste com o exterior, com a rua, com a cidade. Seria fácil descrever esta obra enquanto enunciadora de uma ideologia racionalista, talvez nada mais errado. É imediato a associação perante a simetria irreal da composição da fachada, quase quadrada, e com as janelas timidamente concentradas no seu interior, em volta de um corpo saliente que se destaca, opondo-se ao exagero do muro branco, dando-lhe profundidade e enquadrando-lhe a entrada principal. Logo passa a surpresa dos volumes quando nos debruçamos sobre a fachada posterior, a do jardim. Ai tudo respira normalidade e acontece sem sobressaltos, estamos dentro de casa.
O seu interior estrutura-se de acordo com uma lógica de encadeamento da complexidade íntima. A entrada faz-se, não sem alguma ambiguidade, pelo piso de serviço que conduz o habitante imediatamente (alguma insistência de Loos em referi-lo como espectador), através de um dinâmico jogo de escadas que obriga o corpo, em três lances a chegar ao piso principal (social), passando por um intermédio de guarda-roupa. O piso principal é composto por um hall de articulação da zona de estar/musica, a biblioteca, zona de refeições e a cozinha que, por sua vez, estabelece uma relação independente com a zona de serviços do piso inferior. Todos estes espaços, estando acoplados, não constituem uma continuidade linear. Desenvolvem-se a vários níveis num jogo sobre o estabelecimento de uma estrita relação perceptiva entre os diversos espaços. É deste piso que o interior força a parede da fachada criando um espaço intermédio com o exterior, provocando o volume saliente da fachada, e estabelece o primeiro momento de intimidade, como prolongamento do espaço da biblioteca. No piso superior, a intimidade é garantida pelo programa. Reservado à zona de quartos, há uma clareza esquemática na colocação dos quartos junto das fachadas principais (os quartos principais para o jardim, os secundários para a rua), divididos por um corredor de distribuição central. Por fim o terceiro piso, apenas acessível por escadas em caracol, cria uma zona de estúdio e quarto de dormir com acesso a um terraço exterior. Esta insistência do trabalho da alteridade, do estabelecimento e marcação da relação entre o exterior e o interior, feita a vários níveis, ganha em Loos um papel central como expressão e validação da criação do espaço da habitação.