11.5.10

Casa Tristan Tzara Paris. 1926/27




A casa projectada por Loos para a residência parisiense do poeta Tristan Tzara aparece como um dos seus mais complexos e intrigantes projectos. O programa da casa já fazia prever isso mesmo e as difíceis condições dos terrenos do lote vieram jogar a favor da vontade do autor, já revelada em projectos anteriores, em experimentar novos níveis de concepção semântica e de articulação espacial. Do programa inicial sabe-se (embora a casa tenha sido totalmente transformada no seu interior) que o cliente desejava uma casa com dois níveis de habitabilidade distintos mas interligados, um para si, outro para alugar ou para recessão de visitas; logo reconhecemos um tema não só recorrente em Loos como um dos seus temas favoritos, o espaço dentro do espaço. Pelo que teria que haver uma versatilidade absoluta na articulação destes dois níveis do mesmo espaço geral. Este é o terreno de Loos. A arquitectura pura onde o espaço impera na resolução das necessidades programáticas, submetendo para isso a matéria às suas mais profundas especificidades. Loos constrói assim a complexidade interior desta habitação dupla onde começa a ser complexa a leitura da continuidade espacial através das suas representações gráficas. Conseguimos, pela leitura das relações que a casa vai sugerindo com o exterior, descortinar algumas das principais questões que ocuparam o pensamento do autor. Destaco, em primeiro lugar, as relações de diferença, baseadas nesta premissa programática dual, que determinam discursos distintos entre a fachada principal (Avenida Junot) e a fachada posterior. Na fachada principal Loos coloca em evidencia um jogo duplo, dado sobretudo pelo material, entre um embasamento rectangular de pedra que ocupa os dois primeiros pisos e os três pisos superiores que se desenvolve em muro branco de forma quadrada. “El bueno y antiguo revoco vienés fue maltratado y prostituido, ya no podía decir quién y qué era, y fue utilizado para imitar la piedra. Pues la piedra es cara y aquél es barato. El aire aquí es barato y en la luna es caro. (…) El revoco de cal es una piel. La piedra es construtiva. A pesar de su parecida composición química, existe entre ambos la mayor diferencia en su utilización.” Já na fachada posterior é só este segundo discurso que determina a sucessão de pequenos terraços dando a ideia de um objecto único. Mais uma vez utilizando-se do desnível do terreno, que além do mais exigiu um enorme esforço de contenção de terras que conseguimos perfeitamente descortinar, através das representações em corte, pelo aumento de espessura dos muros no contacto com o solo. Já no desenho das fachadas nota-se um claro recurso à simetria dada pelas aberturas, que aqui ganham definitivamente a dimensão de vazios, escavações nos muros das fachadas que permitem encenar a entrada e criar zona de balcões exteriores.