Situada em Kreuzberg, zona florestas dos arredores de Payerback, Na baixa Áustria, esta casa apresenta-se como um aparente paradoxo à luz da obra de Adolf Loos, particularmente quando comparada com as suas contemporâneas casa Moller de 1928, e casa Müller, de 1930. A dúvida é legítima e ergue-se como mais um relevo na complexa topografia do pensamento do Arquitecto.
Antes de mais, este exemplo demonstra bem a disponibilidade que Loos demonstra em trabalhar os limites da sua própria racionalidade. Disponibilidade dada por um pensamento que se reestrutura baseado numa indagação permanente sobre si mesmo, não mostrando qualquer relutância em trazer à luz das práticas as suas próprias contradições e limitações. Isto porque a racionalidade loosiana não existe senão enquanto instrumento concreto de projecto, é dizer de articulação das diferentes técnicas de transformação da matéria em limites tangíveis do espaço arquitectónico. Por outro lado, os verdadeiros limites da arquitectura estão, para Loos, nas suas práticas concretas, que são os «modos de construir», e o projecto reflecte-os segundo essa mesma consciência. “Antes se construía con los materiales de obtención más asequibles. En algunos sitios con ladrillo, en otros con piedra, en otros se recubrían los muros con mortero. Los que así construían, ¿no quedaban completamente empequeñecidos ante los arquitectos de piedra? ¿Y por qué, pues? A nadie se le ocurría eso. Se tenía una cantera de piedra cercana, entonces se construía con piedra. Pero traer piedra desde lejos les parecía más una cuestión de dinero que una cuestión de arte. Y en otros tiempos el arte, la calidad del trabajo, se valorizaba más que hoy en día.” É a qualidade de trabalho perante as premissas da construção concreta que ditam as regras de projecto. E neste caso especifico há duas que parecem sobressair para além de todas as outras: a construção de uma casa de madeira, numa zona florestal isolada. Se por um lado abunda a madeira como matéria-prima, por outro o bosque dita as relações que o interior da casa devera estabelecer com ele. Longe da vida pública, da metrópole construída sobre o silencio da parede branca, longe, enfim, da Zivilisation, é a vida intima e privada que ganha protagonismo e se explana, sem constrangimentos, no exterior verde da montanha.
Assim se determina a linguagem inerente ao objecto arquitectónico, com as técnicas possíveis e os materiais ideais perante as necessidades concretas. A casa ergue-se assim sobre um embasamento de empedrado, construída em madeira encimada pelo telhado em duas aguas de chapa de zinco. Aí, como que vindo do interior da casa, surge uma plataforma exterior, um pequeno eirado que torna aquele telhado anguloso habitável, proporcionando uma vista
privilegiada sobre o bosque. Faz lembrar de novo aquela passagem.
“Alegremente suenan los hachazos. Está haciendo el tejado. ¿Qué clase de tejado? ¿Uno hermoso o uno feo? No lo sabe. El tejado.”
Tudo para permitir as condições ideais de habitabilidade do espaço interior, que surgem num contexto especifico que lhes dá o ambiente e define as linguagens. Neste aspecto, este projecto revela uma maturidade sobre a construção tridimensional do espaço, do Raumplan que com os anos Loos se torna um verdadeiro especialista. Essa é a sua grande especialidade, o trabalho sobre o espaço, da atribuição de um sentido ideal de acordo com exigências funcionais, que estão muito para além daquelas do corpo físico, perceptivo. A procura de uma gradação para a intimidade, de uma construção precisa da articulação dos espaços que a possibilitam e distinguem o espaço dentro do espaço. A grande sala de estar, abre-se através de um grande envidraçado sobre a colina, desenvolvendo-se em duplo pé direito ladeado por um mezanino que distribui, no segundo piso, pela zona dos quartos. A zona de refeições, a zona da lareira e a cozinha, rebaixadas em relação à zona de estar, proporcionam outro nível de intimidade, pela aproximação que garantem do corpo ao tecto, outra escala para o estar.
Apesar das aparentes contradições, não a tradição vernacular que Loos pretende erigir com este projecto, mas sim uma materialização concreta de um estar num lugar específico, uma continuidade com o lugar que as tradições de fazer actualizadas possibilitam aos corpos que o elejam como seu. Reflexo de um lugar especifico, de um espaço habitável, de uma casa de férias no bosque.